Há uns dias atrás, acompanhei João a rodoviária (ponto de partida e chegada dos ônibus que levam passageiros por todo o Brasil). João é um amigo casado com Silvana e tem uma família muito numerosa: oito filhos. Silvana já havia partido com Joana, a filha menor, para a casa dos pais em Tocantins (um dos Estados do grande Brasil na fronteira de Goiás e da Bahía).
Joao levava a sua família a pequena cidade da qual havia partido a 8 anos atrás, onde vive a família de origem, pai, mãe e quatro irmãos casados, espalhados pelo território.
Consigo levava tanta bagagem, recolheu toda a roupa da família, colocando-a em vários lençóis bem amarrados, em um par de bolsas grades, em sacos negros de plástico; colocou as loucas numa grande panela, amarrada com barbante. Aqui em Goiânia vivia de aluguel e precisou deixar aos vizinhos a miserável mobília: coisas pobres, mas que, nesta realidade, serviam muito.
Enquanto o acompanhava, me perguntava como pode trazer tanta coisa consigo. Me dei conta de que muitos viajantes levavam montanhas de coisas: podem transporta até 30k cada passageiro, incluindo crianças. Tantas são as pessoas que mudam. São nove horas da noite, a rodoviária está lotada e iluminada como se fosse dia. O pullman (ônibus grande) espera: nos seu bagageiro colocam cem quilos de cosias, os únicos bens que possuem para tantas pessoas que viajam com eles. João retorna, não consigo imaginar o que está se passando com ele, nesta hora, certamente uma parte da sua vida e da sua historia passa pelos seus olhos: ele visualiza o bem que viveu em Aparecida, mas também as situações de precariedade.
Quando partiu do interior de Tocantins, certamente tinha sonhos: esperava que a cidade grande oferecesse maiores oportunidades, dando-lhe segurança de manter, com dignidade, a sua família já bastante numerosa; deixava a vida difícil, trabalhosa do campo para aventura da cidade. Nova vida, nova esperança, despois a realidade, viver no bairro, alugar um “barraco” pequeno, a família cresce, as crianças precisam de tudo. Ele, junto com Silvana, luta dia após dia, sonha junto com a esposa, espera um futuro melhor. Todos os dias vãos ao trabalho com uma bicicleta velha ea noite torna a casa cansado: deve trabalhar longe de casa mais de 12 horas porque as despesas são sempre maiores. A família é numerosa: oito filhos, o maior tem quinze anos e Joana, a caçula, dezesseis meses. O salario mínimo que recebe é sempre insuficiente: 420 reais com o último aumento. Sobreviver é muito duro, se não impossível: 170 reais são para o aluguel e a energia; por sorte, vizinho ao barraco há um poço para agua (uma despesa a menos), mas a crianças estão sempre com fome e dispensa esvazia. O CENFI ajuda, faz todo o possível para a família: acolhe as crianças maiores, do apoio escolar, serve o almoço, a tarde a ceia, eles moram longe, nem sempre podem frequentar o centro. Algumas pessoas amigas do CENFI se encarregam dos problemas da família e ajudam. Silvana encontra um pequeno trabalho para ajudar nas despesas da família e, com todos estes filhos, encontra pouco tempo, porém se resolve pouco. Os filhos passam muito tempo sozinhos, muito! Os maiores frequentam a escola, vive muito tempo na estrada (rua) e sabemos que a estrada é perigosa, os menores precisam da presença dos pais. João e Silvana se dão conta que assim não se pode ir adiante; os perigos para os filhos se tornam sempre mais concretos. João e Silvana retomam a situação e pensam que, talvez, seria melhor retornar ao interior; ali, ao menos, tem mais segurança, a família de origem, os avós que lhe dão uma ajuda com as crianças, talvez estariam mais seguros.
Todos sobem no pullman (ônibus), a hora de partir está próxima, as crianças menores estão felizes, os maiores deixaram amigos, lugares conhecidos, o retorno a família de origem para eles é uma aventura, conhecem apenas os avós, como também a vida do campo, talvez João pense: neste momento a sua vida corre feliz junto a dos passageiros que estão sentados a seu lado. Talvez, algum dia, ele ou algum dos seus filhos retorne a Aparecida de Goiânia.
Certamente esta parte da sua vida servirá como experiência; as pessoas que mudam continuamente a procura de condições de vida melhor. Espero que João e Silvana reencontrem um pouco de tranquilidade, tenham a possibilidade de manter a sua família com dignidade e que os filhos possam continuar os estudos para encontrar um futuro melhor. O Brasil é muito grande, talvez algumas coisas mudem e melhorem para a família de João e Silvana! Eu espero tanto. Coragem, vamos com Deus.
Mauro Malesardi